Por: Anderson Borges
Os estudos da Antropologia
revelam que o homem, desde os tempos mais remotos, tem revelado uma necessidade
natural de cultuar algo ou alguém. Tais revelações têm demonstrado que o homem
é religioso por natureza e deve ter algum alvo de culto. A história antiga nos
aponta as diversas oportunidades em que o homem tem se envolvido em rituais
supersticiosos e sacrifícios dedicados a algo ou a alguém de caráter
transcendental. Os povos pagãos se curvavam diante de imagens de madeira ou de
pedra, acreditando, com isso, que obteriam benefícios transcendentais ou
afastariam maldições, pragas e outros malefícios. O Rev. Carlos Fernandes
explica que:
O culto é um fenômeno multireligioso e
multicultural. Em outras palavras, está presente em todas as culturas, de todos
os tempos e lugares e, por isso, em toda e qualquer religião que se possa
descrever. Claro que tal variedade traz a todos uma séria dificuldade do
correto entendimento quando estamos pensando sobre o Culto Cristão. Admite-se, geralmente, que um culto tem por
finalidade estabelecer, mediante ritos, dogmas e símbolos, relações entre os
seres humanos e a(s) divindade(s). Quer por magia, sacrifício, orações ou
outros meios, imagina-se que um culto deva criar, entre o mundo dos deuses e o
mundo dos seres humanos, um intercâmbio proveitoso para ambos. (FERNANDES, 2011).
Partindo deste
ponto de vista, o culto seria uma espécie de fonte de revitalização e
felicidade, quer para deus(es) quer para seres humanos. É claro que tal modo de
entender o culto é profundamente pagão e contrário ao princípio fundamental do
Culto na Bíblia.
Desta forma
podemos entender que o culto além de fazer parte da cultura da humanidade desde
os tempos mais antigos, ele também é o momento onde o ser humano entra em
contato com a divindade através de rituais e/ou oferendas, e que como
conseqüência deste ato, a divindade cultuada retribui tanto espiritualmente
quanto materialmente aquele que a cultua. Mas, como os antigos poderiam saber
da existência de um Deus ou de alguém que estava no controle das coisas, e que
eles poderiam de alguma forma receber algum benefício deste Deus? Pois, quem
cultua, deve estar consciente de que existe alguém para receber as homenagens
prestadas. Disso podemos entender que o homem tem em si mesmo a idéia de Deus
na sua mente, como afirma Louis Berckof:
Os estudiosos
de religiões comparadas e os missionários freqüentemente dão testemunho do fato
de que a idéia de Deus é praticamente universal na raça humana. É encontrada
até mesmo entre as mais atrasadas nações e tribos do mundo... como acima foi
dito, há forte prova da presença universal da idéia de Deus na mente humana,
mesmo entre as tribos não civilizadas e que não tem recebido o impacto da
revelação especial. Em vista deste fato, alguns chegam a negar a existência de
pessoas que negam a existência de Deus, que haja verdadeiros ateus... (BERCKOF,
2007).
Assim entendemos que todas as pessoas têm uma noção de Deus
em sua mente, noção esta que na maioria das vezes está bem distante da
realidade de quem Deus é, mas que leva o ser humano a cultuar e a devotar-se aos
bens materiais, prazeres, sexo, poder ou até ele mesmo. Todos os seres humanos
cultuam. Isso está na sua essência, foram criados para isso.
O culto está presente na vida da
sociedade desde o princípio da humanidade, independente da linha histórica que
se adote, seja ela Criacionista Bíblica ou Evolucionista. Louis Berckof explica
que:
Entre todos os
povos e tribos da terra há um sentimento religioso que se revela em cultos
exteriores. Visto que o fenômeno é universal, deve pertencer à própria natureza
do homem. E se a natureza do homem naturalmente leva ao culto religioso, isso
só pode achar sua explicação num ser superior que constituiu o homem um ser
religioso (BERCKOF, 2007).
Ainda temos a considerar também
que muitos teólogos
cristãos têm definido a humanidade como “homo
adorans”, ou seja, o homem que cultua, significando assim que o culto a Deus é central
para se compreender o ser humano.”
Se fizermos uma análise histórica, percebemos
que desde as primeiras civilizações tais como os Sumérios, os Acadianos, os
Caldeus, os Amoritas, os Hebreus e os Egípcios cultuavam algum tipo de
divindade(es). O culto estava no centro das atividades destes povos, não era
apenas um ato ligado a “esfera religiosa”, mas essencial à vida da comunidade
em todos os sentidos. A própria arquitetura das cidades traziam o templo no
centro delas, neste local, não tratavam somente de assuntos religiosos, mas a
própria administração da cidade estava nas mãos dos sacerdotes.
Mais tarde, com o surgimento e
ascensão dos Gregos o cenário não muda muito, apesar de haver uma ênfase dada
por eles à filosofia, os deuses não saem da sua cultura. O culto na Grécia consistia geralmente
do sacrifício de animais domésticos no altar, em meio a hinos e orações. Partes
do animal eram então colocadas sobre as chamas, para os deuses; e os
participantes comiam o resto. Karl Meuli afirma o seguinte:
A evidência destas práticas é descrita com exaustão
na literatura antiga, especialmente nos épicos de Homero. Ao longo dos poemas,
o uso deste ritual fica aparente em banquetes onde carne é servida, em épocas
de perigo ou antes de alguma empreitada importante, como meio de se obter o
apoio dos deuses. Na Odisséia, por exemplo, Eumeu sacrifica um porco com uma oração por seu mestre, Odisseu, na Ilíada
todos os banquetes dos príncipes se iniciam com um sacrifício e uma oração.
Estas práticas, descritas em períodos pré-homéricos, apresentam traços em comum
com formas de sacrifício ritual do século VIII a.C. ( MEULI, 1946).
Estas situações de sacrifícios nos
poemas épicos de Homero podem indicar uma visão dos deuses como membros da
sociedade, e não entidades externas, indicando laços sociais com eles. Os
sacrifícios rituais desempenhavam um papel crucial na formação de relações
entre o humano e o divino. Diversos templos eram erguidos em homenagem aos deuses.
Alguns dos mais imponentes e conhecidos eram o Templo de Zeus, em Olímpia, e o Partenon, dedicado à deusa Atena, localizado
sobre a Acrópole, em Atenas.
A religião no império romano não se
diferenciava muito da dos gregos, a religião na Roma Antiga caracterizou-se pelo politeísmo, com elementos que combinaram influências de diversos
cultos ao longo de sua história. Desse modo, em sua origem, crenças etruscas, gregas e orientais foram sendo incorporadas aos costumes
tradicionais adaptando-os às necessidades da população. Os deuses dos antigos
romanos, à semelhança dos antigos gregos, eram antropomórficos, ou seja, eram representados com a
forma humana e possuíam características (qualidades e defeitos) de seres humanos.
O Estado romano propagava
uma religião oficial que prestava culto aos grandes deuses de origem grega,
porém com nomes latinos, como por exemplo, Júpiter, pai dos deuses; Marte, deus da guerra, ou Minerva, deusa da arte. Em honra desses deuses eram realizadas festas, jogos e outras cerimônias.
Posteriormente, diante da expansão militar que conduziu ao Império, muitos deuses
das regiões conquistadas também foram incorporados aos cultos romanos, como
por exemplo, o culto ao deus persa Mitra, o que incluía a crença em um
redentor que praticava o batismo e a comunhão pelo pão e pelo vinho.
Em casa, os cidadãos, por
sua vez, tradicionalmente buscavam proteção nos espíritos domésticos, os
chamados "lares", e nos espíritos dos antepassados, os
"penates", aos quais rendiam culto.
Além disso, havia também o
culto ao estado romano representado na figura do imperador. O culto do imperador não foi estabelecido
arbitrariamente. Desenvolveu-se gradualmente da crescente atribuição de honras
sobre-humanas ao imperador e do desejo de centralizar nele a obediência do
povo. Júlio César foi, depois da sua morte, chamado Divus Julius. Desde o tempo
de Augusto, todos os imperadores eram divinizados na sua morte por voto do
Senado, posto que alguns não tomassem a honra muito a sério. Calígula ordenou
que fosse erigida a sua estátua no templo de Jerusalém, mas como era
considerado geralmente um louco, não pôde este seu ato ser considerado como
representando a política geral dos imperadores.
Dentre os povos citados acima, existe um deles que se
diferenciava dos outros pela sua forma de culto, pois, enquanto que a maioria
deles cultuavam vários deuses, os Hebreus (que mais tarde seriam os Judeus)
cultuavam apenas um Deus, e por isso eram considerados monoteístas. A diferença
básica dos Hebreus para os outros povos, é que estes atribuíam a um só Deus a
existência e o controle de todas as coisas e acontecimentos naturais ou
sobrenaturais, enquanto que as nações ao redor, consideravam cada coisa ou
fenômeno que ocorria entre eles como sendo controlado por um deus diferente.
Cada cidade era controlada por um deus. Outro aspecto importante dos Hebreus é
que eles adoravam um Deus invisível, indo de encontro a cultura dos povos
adjacentes em que a maioria dos deuses eram na verdade figuras super-humanas e
limitadas aos sentimentos mais fúteis que o ser humano pode exprimir. Era uma
divindade baseada na humanidade.
Os Hebreus acreditavam basicamente em um Deus pessoal e que
se relaciona com o seu povo, um Deus amoroso, misericordioso e justo que lhes
daria uma terra para viverem em paz. Criam também que Deus criou o homem
perfeito, mas este havia caído em pecado, e como consequência disso recebeu a
morte eterna. Acreditavam na vinda de um messias que os livraria dos seus pecados,
dos seus inimigos, estabeleceria o seu reino e os governaria para sempre num
reino de paz. O culto dos Hebreus era baseado basicamente no sistema
sacrificial, onde um animal era entregue pelo ofertante ao sacerdote com o
intuito de agradar a Deus e receber o seu perdão. Esta oferta não era feita de
forma aleatória, seguia um rígido princípio que estava revelado na Lei entregue
ao profeta Moisés pelo próprio Deus.
No decorrer da história surge então o cristianismo, que é
oriunda do judaísmo. O cristianismo, assim como o Judaísmo, fundamenta-se nos
mesmos princípios de um só Deus que é o criador de todas as coisas, um Deus
pessoal e que se relaciona com o seu povo, crê também que o homem foi criado
perfeito mas caiu em pecado e por isso necessita de um messias para salvá-lo e
que este Deus deve ser adorado a partir de princípios estabelecidos nas
Escrituras sagradas. O culto cristão no entanto, diferente do judaico, não se
baseia no sacrifício de animais como forma de agradar a Deus e conseguir o
perdão de seus pecados pois entende que a morte de Jesus Cristo na cruz foi um
sacrifício eterno garantindo assim a satisfação da justiça o perdão de Deus
para todos aqueles que crêem nele.
Conclusão
Apesar do culto ser um elemento presente na humanidade
desde os tempos mais remotos, isso não significa que todos os cultos são válidos,
nem que os homens têm o direito de fazê-lo como quiserem. O culto é uma criação
divina, e como tal, deve ser realizado conforme ele deseja. Existe somente um
Deus verdadeiro e portanto só um culto verdadeiro. E creio que o Deus
verdadeiro é aquele revelado na Bíblia. O Deus dos Hebreus, o Pai do Senhor
Jesus Cristo.
Cristo é o messias prometido do Antigo Testamento, aquele
que veio para salvar o pecador e restaurar todas as coisas, através dele
devemos render o nosso culto a Deus, sem a necessidade de sacrifícios de
animais ou oferendas, pois ele foi o cordeiro imolado, a oferenda máxima que se
entregou em favor de sua Igreja, aplacando assim a ira de Deus contra a
humanidade eleita. Este é o Deus verdadeiro, ao qual todos nós devemos render
culto. deixemos o próprio Senhor falar:
Soli Deo Glória!
Texto extraido e adaptado da minha monografia: "O culto Cristão Reformado na Perspectiva de Westminster".
Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os
olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o
Filho te glorifique a ti, assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a
carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. E a
vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a quem enviaste. Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me
confiaste para fazer; e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória
que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo. (Jo 17.1-5)
Soli Deo Glória!
Texto extraido e adaptado da minha monografia: "O culto Cristão Reformado na Perspectiva de Westminster".
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