segunda-feira, 1 de junho de 2015

A Antítese Protestante Contra o Fenômeno dos Desigrejados

Por Rev. Adilson Lordêlo


Dentre os fenômenos religiosos e terminologias consideradas por alguns historiadores, como relativamente recentes no seio do protestantismo brasileiro, há um termo que chama atenção para um grupo, os desigrejados. A palavra tem relação estreita com o conceito romanista de católicos não praticantes e sinaliza a existência de pessoas, que embora tenham sido criadas em igrejas protestantes históricas, afastaram-se do convívio religioso e vivem como crentes nominais.

O objetivo principal do presente editorial é discorrer sobre o valor histórico de alguns princípios protestantes fundamentais para a preservação da identidade religiosa. Glaucilia Perrucci em opúsculo onde discorre acerca de alguns valores que considera importantes para a continuidade do compromisso religioso, enumera três, que são: “1-) Frequência assídua à escola dominical; 2-) oportunidade de estudo em escola evangélica; 3-) culto doméstico” (PERRUCCI, 1998). Os princípios estabelecidos por Glaucilia em sua pesquisa, quando observados, são de suma importância para a preservação da fidelidade a identidade cristã. A escola dominical presbiteriana, que cumpre o papel da educação no âmbito extraescolar, tem sido objeto de pesquisas entre alguns educadores, que tem revelado em suas analises, a eficácia do seu ensino, tanto na emancipação e desenvolvimento intelectual dos alunos, quanto na preservação da identidade religiosa. Em artigo da revista da FAEEBA – Vinculada ao PPGDUC – Programa de Mestrado e Doutorado em Educação e Contemporaneidade da UNEB, cujo tema é: “A Escola Dominical Presbiteriana: Disseminação de Saberes e Práticas”, Ester Fraga e Nicole Bertinatt, revelam a consciência dos primeiros missionários acerca da necessidade do estabelecimento das escolas dominicais, bem como seus resultados para o reino de Deus: “Logo que Simonton chegou ao Brasil percebeu a importância de uma estratégica educacional e, um ano após sua chegada, em abril de 1860, criou, no Rio de Janeiro, a primeira Escola Dominical Presbiteriana do Brasil. Em sua própria casa, Simonton contou com a presença de cinco crianças e utilizou a Bíblia, o Catecismo e o livro o Peregrino [...] Os resultados aqui reunidos apresentam a Escola Dominical como uma prática pedagógica, cujo principal objetivo era ensinar a doutrina protestante por meio da Bíblia. As Escolas Dominicais foram um dos mais eficazes meios de disseminação do Protestantismo no Brasil [...] A Escola Dominical era idealizada como uma instituição imprescindível à igreja, existindo para levar melhor instrução ao povo sobre o conhecimento da Bíblia, sendo este o seu desígnio principal” (NASCIMENTO & BERTINATTI, 1992, pp. 98, 103). O artigo cientifico cujo tema é “A Influência da Educação Calvinista na Formação da Professora Ivete Alves Sacramento”, destaca através da fala da referida educadora o valor da escola dominical presbiteriana em sua formação: “Você vê a riqueza intelectual que a escola dominical traz para um cidadão. Então eu tive essa influência dessa escola dominical em que você também tinha que preparar seu assunto e apresentar oralmente para outros pares na sua adolescência. Imagine a riqueza de formação intelectual que se tem fora da escola formal, então a escola dominical levava para a escola formal indiretamente o conhecimento de forma multidisciplinar” (LORDÊLO, 2014, p. 12).

Outro aspecto importante destacado por Perrucci na continuidade dos valores religiosos nas famílias dos protestantes é “a oportunidade de estudo em escola evangélica”. Um dos fenômenos religiosos que revolucionou a educação na Europa a partir do século XVI, foi à visão que os reformadores tiveram da necessidade de educar o povo, de onde surgiu a ideia de que ao lado de cada igreja deveria se instituir uma escola. Este projeto tomou forma inicialmente com o reformador francês, João Calvino que: “Também era um humanista e um “scholar” antes de se tornar um reformador. A tradição humanista do século XVI imprimiu uma marca indelével sobre todo o futuro da tradição reformada. Em todos os lugares em que a comunidade reformada se estabeleceu, surgiram escolas ao lado dos templos não somente para o ensino da Bíblia ou para ensinar a ler a Bíblia e outras habilidades relacionadas com o seu estudo, mas também todo elenco das artes liberais, para libertar o espirito humano [...] a academia de Genebra era, em muitos aspectos, a coroação do trabalho de Calvino na cidade” (LEITH, 1996, p. 123-124, apud GREGGERSEN, 2002, p. 65).

No Brasil a chegada dos primeiros missionários protestantes, foi marcada pela herança herdada da primeira geração de reformadores, que disseminaram a ideia de que ao lado de cada igreja, deveria se estabelecer uma escola. Este projeto tornou-se realidade entre os presbiterianos brasileiros com a implantação da Escola Americana, que posteriormente tornou-se o Mackenzie College: “Os presbiterianos norte-americanos começaram a organizar escolas protestantes no Brasil a partir de 1870, fundando em São Paulo a Escola Americana, futuro Mackenzie College [...] A Escola Americana oferecia os cursos primário, secundário e superior científico. Posteriormente, o Mackenzie College seria a escola modelo da missão presbiteriana, utilizando os métodos, os livros didáticos traduzidos e a organização similar aos das escolas públicas de Nova Iorque. Na escola primária anexa ao Mackenzie College, conhecida como Escola Americana, os futuros professores praticavam o novo método de ensino, que se propunha a ser ‘concreto, racional e ativo, denominado ensino pelo aspecto, lições de coisas ou ensino intuitivo’, ou seja, aliar a observação e o trabalho numa mesma atividade” (NASCIMENTO & BERTINATTI, 1992, pp. 98-99, Apud, NASCIMENTO, 2008, p. 6, 12, 13).

A história das missões protestantes no Brasil, ainda indica o valor do culto doméstico como argamassa para a solidificação espiritual da família da fé. Foi através de um desses cultos, que José Manoel da Conceição, um sacerdote católico romano, foi atraído a Jesus, tornando-se o primeiro ministro presbiteriano nascido no Brasil. A Confissão de Fé de Westminster, no capítulo XXI, seção VI sinaliza o valor do culto em família: “Agora, sob o Evangelho, nem a oração, nem qualquer outra parte do culto religioso se restringe ou se faz mais aceitável a um certo lugar em que se ofereça ou para o qual se dirija; mas Deus deve ser adorado em todo lugar em espírito e em verdade; tanto em família, diariamente e em secreto, estando cada um sozinho”. Dentre outros ensinos, esta seção, enfatiza que uma das formas pelas quais podemos adorar a Deus é através do culto doméstico, verdadeiro alimento para preservação da identidade religiosa do povo de Deus.

O que está acontecendo com os nossos jovens? Onde temos falhado? Perdemos a visão dos nossos pais? Esquecemos o valor da ideologia preconizada pela primeira geração de reformadores onde a eficácia da educação formal se concretizou através da extraescolar? Relativizamos o valor da escola dominical, reduzindo-a a um discurso superficial, subjetivo e relativista? E quanto ao culto doméstico, perdemos a visão dos seus benefícios? Obviamente, nem todos desfrutam de todas os recursos aqui apresentados contra o fenômeno dos desigrejados, no entanto, o meios que estão disponibilizados devem ser utilizados da forma mais excelente, a fim de preservar a identidade religiosa do povo da aliança.

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